Tempo de Verão, companhia 5 estrelas, mesa farta, paisagem verdejante. Em suma, a quadratura do círculo por terras do Alto Minho, cruzadas pela presença do rio e das encostas pontuadas das vinhas da casta alvarinho, a casta rainha desta região.
Vila Praia de Âncora, Vila Nova de Cerveira, Valença, Caminha, Monção, Melgaço, Moledo. É só “go with the flow”.
Fim-de-semana solarengo. Brisa suave. Céu com azul de Verão. O postal perfeito que convidava ir até à Parede e conhecer a Sociedade que se instalou nos finais de 2014 no edifício da SMUP (Sociedade Musical União Paredense), instituição com pergaminhos na Parede.
Espaço de decoração simples, com ambiente familiar (em parte devido à memorabilia de tempos idos) onde nas mesas com tampo de mármore se serve uma cozinha de petiscos tradicionais e pratos de inspiração mediterrânica.
Sendo o couvert disponível um clássico, nem por isso se pode deixar de louvar a qualidade do pão, a manteiga caseira e as azeitonas temperadas no ponto.
A opção recaiu nos 5 pratos de peixe e de carne que são propostos, tendo sido eleito o espadarte com xarém de coentros e o leitão acompanhado de puré de cenoura e do coração de alface ligeiramente grelhado. O espadarte pode ser um peixe ligeiramente seco, mas o xarém, com os coentros incorporados, ajudou a torná-lo menos ressequido. Aliás, o xarém é servido aqui sob a forma de grãos de milho quebrados, ao invés do que sucede no Algarve em que é feito a partir de farinha de milho. O sabor é idêntico, mas a textura dos grãos partidos torna o prato muito mais interessante.
Por sua vez, o leitão encontrava-se cozinhado na perfeição: macio, húmido no seu interior e crocante no exterior.
A carta de vinhos, de fazer corar muito estabelecimento por aí, é extensa, cuidada e variada, sendo propostas algumas opções a copo.
No capítulo das sobremesas, pudim de noz e uma trilogia de chocolate e cacau (salame, mousse e gelado) foram os alvos da gula. O pudim, de sabor suave, estava húmido. Uma delícia. Quanto à outra sobremesa, nunca se pode dizer que é demasiado chocolate ou cacau!
Enfim, a Sociedade merece mais do que uma visita só. A carta mais petisqueira, digamos assim, é todo um programa: ovos e espargos verdes, alheira, maçã e ovo, pato e vinagre balsâmico, bacalhau com beterraba e coentros, etc, pelo que, o regresso estará para breve.
Regresso a Haia e a Amesterdão, 3 e 13 anos depois, respectivamente. Canais, mestres pintores holandeses, tulipas, moinhos, bicicletas, socas de madeira, queijo Gouda, pólderes. Tudo evocações dum país no coração da Europa, mas com traços sui generis. As minhas estadias esporádicas não permitem um retrato fiel, próximo ou conhecedor da personalidade, hábitos ou carácter do povo holandês. Para tal, recomendo a leitura de “Com os Holandeses” do meu compatriota J. Rentes de Carvalho, observador atento desta sociedade, que numa prosa honesta e frontal, mas sem ser rude, traça as virtudes e os defeitos das gentes desta terra.
Mas devo dar à mão à palmatória no que diz respeito às observações dele sobre a culinária holandesa, ou melhor, à ausência dela.
Quem entre, porém, numa livraria ou na surpreendente Dok, na Haia, (http://www.dokhomeofcooking.nl) ficaria com a impressão do oposto: há variedade de tópicos na prateleira dedicada à culinária e gastronomia e “gadgets" de todos os tamanhos e feitios, incluindo aparas de vários tipos de madeira para fazer fumados, em suma, um sonho para quem gosta de cozinhar.
Valham-nos, pois, as diversas opções de cozinha internacional, que vão desde as já clássicas (para nós, pelo menos) indiana e italiana, até, porventura mais exóticas, à filipina, à indonésia ou à libanesa.
Em Haia experimentei um grego, Irodion. Para entrada, umas dolmas (folhas de videira, recheadas com arroz e peixe) estavam macias e frescas. De seguida, um suculento slouvaki, carne de borrego picada grelhada, em que ressalta o tempero dos cominhos, acompanhado de batata frita, molho de iogurte e pepino. Uma experiência informal na esplanada sob um sol ameno, que é sempre uma benção por estas paragens.
Também em Haia, cozinha lionesa. Nestas bandas, dei de caras com um restaurante da cozinha de Lyon (Le gone), testemunho da sua riqueza e importância no quadro da gastronomia francesa, o que não é de espantar, considerando que Lyon reivindica local cimeiro nesta última. Rodolphe, um simpático lionês, está aos comandos deste restaurante simples, onde tive a oportunidade de comer uma salada lionesa. Uma mistura de saladas verdes, crotouns, figo seco, nozes, fatias de um enchido típico de Lyon com pistácios, fatiado e grelhado, encimada por um ovo escalfado, com uma vinagreta ao lado.
Em Amesterdão, uma incursão na cozinha malaia no restaurante Wau. Satay de borrego, acompanhado de cebola rocha, pepino, manga e ketupat, bolos de arroz glutinoso cozinhados numa pequena bolsa formada por folhas de palma, e claro, o incontornável molho satay, à base de amendoim e ligeiramente picante. O arroz envolvido nas folhas tem um sabor pungente e o pepino e a manga dão frescura à carne que se envolve no molho.